sexta-feira, 27 de março de 2009



Este mês li um artigo dedicado ao chamado movimento grunge. É interessante ler textos sobre o que já foi parte do que fomos, ainda para mais com uma distância temporal, quase física, que vai rasgando devagar a nossa cara daquela fotografia. Vais lendo, consegues ver-te, reconheces traços, mas não encontras no armário as botas azuis. Sim, as botas que raspavas com uma concentração visceral na parede para parecerem dignas de alguém que engolia o mundo a cada segundo que passava.
Era tão bom estarmos longe dos outros, de quem não nos entendia, de quem perdia horas a valorizar a pele e a descurar a reflexão, de quem não mordia o lábio de dor, de quem não ouvia as nossas bandas. Uma tribo urbana como outra qualquer. Tínhamos sorte. Primeiro, as referências que vinham de Seattle eram esculturas genéticas, perdição atrás de perdição de qualquer adolescente. Eram os nossos pensadores e ficavam tão bem na parede do quarto. Os nossos namorados queriam ser como eles e nós gostávamos disso. Éramos varridas caoticamente e com elevação pelas letras! Dizíamos: É isto! Brutal! Que cena! Estes gajos são muito bons! A forma com que conseguem expressar o que sinto por isto...e o que é isto...? Vinham os concertos, gravávamos os especiais na MTV, trocávamos cassetes e fazíamos compilações das nossas músicas preferidas para os amigos. No final da música, às vezes, lá vinha o animador chato da rádio estragar o tema que tinha tudo para ser perfeito, nunca deixando de o ser. Depois morreu o Kurt, a nossa notícia de abertura naquele dia. Fomos andando e vendo outras coisas. Um dado curioso, sempre que vemos a nossa cara a ser rasgada da fotografia, batemos o pé com as botas azuis e não o permitimos. Quantas tribos urbanas fazem isto?

5 comentários:

  1. quando isso acontecia era-me totalmente desconhecido o sentido da vida. lamento não ter nascido nessa geração. na minha? as Spice Girls foram o auge. e lá está, elas dão o mote: wannabe - that's my generation! *

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  2. Essa é uma fotografia que vai durar para sempre...por mais que o tempo passe e desgaste essa fotografia, não nos esquecemos dela no bolso de trás dos jeans gastos e reconhecemo-nos sempre que olhamos para ela...a banda sonora da minha vida quase se resume a esses anos...foram tão marcantes que é difícil deixá-los para trás...eu não quero deixar...nem esquecer essa fotografia...e tu também não, right?...*

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  3. Claro que não...É bom ter amigos que seguem os mesmos trilhos que nós... Nós que somos nós nessa fotografia. Miss you..desculpa não ter respondido à tua mensagem...depois explico. saudadessssssssssssss beijo...you rock!

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  4. E continua a busca pela camisa de flanela perfeita...they don't make them like they used to...*

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